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Carne vermelha não aumenta riscos à saúde, aponta nova pesquisa

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Ao contrário do que se pensava previamente, um novo estudo publicado na revista Nature descarta relações entre carne vermelha e riscos de saúde. Entenda

Cientistas de saúde da Universidade de Washington realizaram uma pesquisa em que avaliaram diversos estudos sobre a relação do consumo de carne vermelha com diversas doenças. Atualizado recentemente, o trabalho Health effects associated with consumption of unprocessed red meat: a Burden of Proof study (Efeitos na saúde associados ao consumo de carne vermelha não-processada: um estudo sobre o Ônus da Prova, em tradução livre), publicado na revista Nature, mostrou que doenças como diabete tipo 2, câncer colorretal e doenças cardiovasculares — principalmente o acidente vascular cerebral (AVC) — não têm evidências fortes o suficiente para serem relacionadas à ingestão de carne não-processada.

No Showmetech, você confere detalhes dessa pesquisa dos Estados Unidos e fica por dentro de como outros pesquisadores em saúde avaliam essa relação.

O que os cientistas de Washington (EUA) descobriram sobre a carne vermelha?

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Consumir carne vermelha e ter doenças como câncer: a relação precisa de mais provas; na imagem: mão pega carne em bandeja (Imagem: grilaxia/iStock/Reprodução).

Os pesquisadores do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME; Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, em tradução livre), que pertence à universidade, levantaram diversos trabalhos científicos que dedicaram atenção à carne vermelha e como ela estava ligada a doenças. Décadas de pesquisas foram observadas e os autores entenderam que haviam algumas falhas.

Entre elas, estavam métodos não apropriados para apontar a relação com alimentos e doenças, além de pouca variedade de populações alvo dos estudos; medidas de estatística sem consistência; e, sobretudo, desinteresse em investigar dietas mais variadas. Isto é, os autores do estudo, descobriam que as pesquisas que foram investigadas não apresentavam um rigor científico ideal para avaliar a ligação com as condições de saúde alimentar. Por isso, o nome da pesquisa contém a expressão ônus da prova: é um elemento essencial para dizer que uma situação leva a um resultado, desde que seja possível provar que isso acontece.

“Vimos evidências fracas em relação à associação entre consumo de carne vermelha sem processamento e câncer colorretal, câncer de mama, diabete tipo 2 ou doenças do coração. Além disso, nós não encontramos nenhuma evidência de uma associação entre carne vermelha não-processada e AVC isquêmico ou hemorrágico”.

Autores do estudo do IHME, ligado à Universidade de Washington

Função de risco de ônus da prova: método fundamental para o estudo

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A saúde alimentar é um campo de pesquisas com diversos dados, explorando condições de sáude, por exemplo; na foto: pessoa come prato com vegetais, vista de cima (Imagem: Louis Hansel/Unsplash/Reprodução).

O trabalho publicado na Nature em outubro de 2022, atualizado em abril deste ano, fez uso de um método importante, chamado de função de risco de ônus da prova. Além de avaliar como as pesquisas analisadas realmente provavam a ligação entre carne vermelha e doenças, os pesquisadores de Washington aplicaram uma função que “avalia e resume evidências de problemas, por diferentes pares de resultados de risco“.

Em outras palavras, os autores aplicaram um método que dá a possibilidade de ver dados de diversos estudos, apontando para alguma doença. Com apoio dessa ferramenta, chega-se a um número que pode ser usado em um sistema de avaliação por cinco estrelas, mais ou menos como funciona em aplicativos de corrida. Assim, os pesquisadores conseguem ver essas relações com maior agilidade.

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Doenças cardiovasculares precisam de provas robustas para serem pesquisadas; na foto: homem em frente a quadro, com desenho de um gráfico (Imagem: IHME/Divulgação).

A aplicação da função usa estrelas da seguinte forma: se a causa relaciona à doença não existir, ela recebe apenas uma estrela; duas estrelas para a probabilidade de 0% a 15% do hábito alimentar causar algum problema de saúde; três para chances de 15% a 50%; quatro para 50 a 85%; e cinco para um valor maior que 85%. Acontece que os autores do estudo do IHME, ao usarem a fórmula, não encontraram nenhuma pesquisa, com dados de hábitos alimentares, que pontuasse com mais de duas estrelas.

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Não ter ônus da prova deixa pesquisas inconsistentes; na imagem: rosto do neurologista Steven Novella, olhando para a esq. (Imagem: Larry Auerbach/Reprodução).

Quanto aos dados encontrados pelo instituto, o neurologista da Universidade de Yale, Steven Novella, indica que o estudo em questão confirma um diagnóstico comum: hábitos alimentares sem diversidade levam a dietas ruins. Então, a ocorrência de problemas como câncer e AVC passam a ser frequentes, devido ao problema alimentar já conhecido.

“Existem mais evidências para riscos de saúde a partir do baixo consumo de vegetais. Isso realmente é um defeito das dietas que priorizam o consumo de carne — as calorias desse alimento estão substituindo os valores energéticos dos vegetais.”

Steven Novella

Quais outros fatores de risco podem estar associados a doenças do coração?

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AVC está associado a diversas condições de saúde; na foto: homem pratica exercícios no sofá (Imagem: myfitnesspal/Reprodução).

Os pesquisadores dos EUA levaram em conta que diversos comportamentos podem contribuir para aumentar as chances de desenvolver câncer e doenças cardiovasculares. Fazer poucos exercícios ou comer poucos vegetais, dando prioridade para outros alimentos, pode levar a ter problemas com a saúde, incluindo as condições que foram alvo da pesquisa feita em Washington.

Em relação ao coração, riscos de saúde envolvendo bloqueio da passagem sanguínea ainda lideram listas de doenças que mais matam pelo mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, mostram que das 17 milhões de mortes causadas por doenças silenciosas (ou seja, que não têm sintomas muito evidentes) em 2019, quase 40% tinham como causa doenças cardiovasculares.

Outro estudo recente, inclusive, mostrou que complicações na gravidez também podem levar a doenças no coração. Segundo os autores da pesquisa, publicada na British Medicine Journal (BMJ), é possível que a diabete durante a gestação e a pré-eclampsia possam aumentar os riscos para complicações cardíacas em 54% e 30%, respectivamente.

O que dizem pesquisadores brasileiros sobre o consumo de carnes processadas?

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O campo de estudos em saúde alimentar é baseado em dados de diversas áreas e situações, entre elas os hábitos alimentares; na imagem: hambúrguer visto de cima, próximo à câmera, com uma mão segurando-o (Imagem: Natalie Jeffcott/Stocksy).

Diferente da carne vermelha pesquisada pelo IHME, os alimentos ultraprocessados, feitos com carnes processadas e outros produtos (até mesmo sangue de boi), tem um olhar negativo de outros pesquisadores. Mortadelas e salsichas são fabricadas, por exemplo, com cortes menos valorizados ou até com uso de carcaças.

Dirce Marchioni, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), afirma que existem processos que podem levar a criação de substâncias perigosas. Elas são formadas, segundo a pesquisadora, quando reagem a substâncias formadas durante a defumação ou fixação de cor. Fábio Campos, também da FSP e membro da Sociedade Brasileira de Proctologia (SBP), concorda com a professora.

“Se você come muita gordura e pouca fibra, não vai haver ácidos graxos suficientes para proteger o seu intestino, podendo criar um desequilíbrio na saúde, a longo prazo”

Fábio Campos

Você consome carne com frequência? Alguém conhecido seu já teve problemas de saúde por causa da alimentação? Fala pra gente, na seção de comentários do Showmetech!

Veja também:

Fonte: Big Think | Nature | OMS (em inglês) | CNN | UOL (Viva Bem)

Revisado por Glauco Vital em 18/5/23.

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