Entenda o apagão da twitch

O que foi o “apagão da Twitch” e o quais são seus objetivos?

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Saiba tudo sobre as duas greves de streamers da Twitch, em 23 de agosto e 1º de setembro

No dia 23 de agosto e no dia 1º de setembro (última quarta-feira), aconteceu o chamado apagão da Twitch, onde tanto streamers nacionais e internacionais, alternadamente e por motivos diversos, fizeram uma espécie de greve da plataforma, como forma de protesto. Envolvendo em sua maioria produtores de conteúdo pequenos e médios, os protestos objetivaram a falta de atitude da Twitch em relação a discurso de ódio e raids (ataques) a minorias nas transmissões, no caso da iniciativa dos streamers internacionais, e a redução do valor da inscrição paga pelo público aos produtores de conteúdo, no caso dos streamers nacionais. Vamos entender melhor a situação?

O apagão do dia 23

O primeiro evento dessa onda de protestos contra a Twitch, pelo menos no Brasil, foi o apagão do dia 23, encabeçado pelos streamers nacionais, sem a participação da parcela internacional de produtores de conteúdo. Os organizadores do movimento não se fizeram públicos, mas tem páginas onde divulgaram e incentivaram o apagão, como a Apagão da Twitch, no Twitter — onde clamam ser uma iniciativa composta tanto de streamers quanto de viewers (os espectadores dos canais da plataforma).

No caso do movimento tupiniquim, o motivo principal da greve é a alteração do valor da inscrição, ou sub (de subscription, termo original em inglês), que foi de R$ 22,99 a R$ 7,90 em agosto. Em termos de quanto o streamer em si recebe, o valor atual é de US$ 0,40 (ou R$ 2,10) por cada inscrito, antes sendo próximo de R$ 6,80. Apesar de ser uma mudança ótima para os consumidores de conteúdo da Twitch — que, provavelmente, considerarão gastar mais dinheiro para apoiar seus streamers favoritos — os produtores acabam ficando no prejuízo. Outros países já passaram por mudanças semelhantes, e o volume de novos inscritos aparentemente compensou.

Convocação divulgada na internet chamando os streamers a aderirem ao apagão da twitch
Convocação divulgada na internet chamando os streamers a aderirem ao apagão da Twitch

A plataforma veio com medidas de compensação, prometendo calcular uma média dos ganhos dos três meses antecedentes e utilizando os valores para pagá-los integralmente, nos primeiros três meses do ano, 75% nos três seguintes, 50% no terceiro trio e 25% no último — por um ano, e para os que sofreram de reduções na receita, é claro. O problema é que, enquanto os maiores streamers da plataforma provavelmente não sentirão tantas mudanças — dado o volume de inscritos e outras fontes de lucro, como patrocínios e publicidade –, os pequenos e médios produtores de conteúdo não tem tanta facilidade para compensar a queda do valor da inscrição com números brutos tão rapidamente.

É justamente essa parcela que se indignou e seguiu adiante com os protestos, não só no dia 23 como no dia 1º de setembro. Muitos canais se pronunciaram apoiando o apagão e se abstendo de fazer lives: apesar do movimento ter ganhado certa tração, alguns streamers grandes — como alanzoka e Gaulês — continuaram com suas lives normalmente, tanto porque não quiseram se associar ao movimento e possivelmente se indispor com a plataforma com a qual trabalham como também porque sua receita não sofreu impactos tão significativos, especula a internet. Curiosamente, alguns streamers pequenos também resolveram se aproveitar da ausência de muitos criadores de conteúdo para cooptar espectadores.

O apagão do dia 1º

Já o apagão da Twitch do primeiro dia de setembro juntou as hashtags #apagaotwitch e #apagaodatwitch à gringa #ADayOffTwitch (A day off Twitch, em tradução livre, seria “um dia fora da Twitch”). Organizada por streamers internacionais (com criação da hashtag pelo streamer RekitRaven, essa iniciativa não tem muito a ver com a mudança de preço das inscrições (afinal de contas, ela é coisa nacional mesmo), mas sim com o discurso de ódio e assédio virtual que tem assolado a Twitch nos últimos tempos, ou mais especificamente, a falta de atitude da plataforma quanto a medidas de prevenção desse tipo de comportamento.

A própria plataforma afirma estar trabalhando em medidas de prevenção, como maneiras de evitar que usuários banidos de canais específicos consigam voltar com outras contas e afins, mas os usuários acreditam que não é o suficiente para que as hate raids (ataques de ódio em massa) possam ser evitadas. Um usuário no Twitter, Tom Simonson, demonstra como a estratégia de banir palavras ofensivas é ineficaz — já que é necessário inserir manualmente todas as combinações POSSÍVEIS da palavras, envolvendo caracteres especiais. Em suma, mesmo automatizado via programação, o processo levaria 76 dias para uma única palavra. Confira:

Bem, aliando a hashtag que já comentamos com mais uma — a #TwitchDoBetter (“Twitch, faça melhor”, em tradução livre), tanto os streamers nacionais quanto os streamers internacionais se uniram para um segundo apagão da Twitch. A exemplo do primeiro dia, muitos dos médios e pequenos produtores aderiram à causa (alguns fazendo lives no YouTube ou outras plataformas ao invés disso), vários grandes ignoraram e outros surfaram na onda. O usuário do Twitter lucascg02 ilustrou a situação entre o início e o final da 10ª hora da manhã com prints:

  • O que foi o "apagão da twitch" e o quais são seus objetivos?. Saiba tudo sobre as duas greves de streamers da twitch, em 23 de agosto e 1º de setembro
  • O que foi o "apagão da twitch" e o quais são seus objetivos?. Saiba tudo sobre as duas greves de streamers da twitch, em 23 de agosto e 1º de setembro

O apagão da Twitch deu resultado?

Bem, a resposta é mais próxima de “depende do ponto de vista”. O The Verge recebeu informações de um site que analisa dados acerca de games, a Gamesight, que revelou uma queda de cerca de 800 mil horas assistidas em relação ao mesmo dia da semana anterior (quarta-feira, no caso), além de aproximadamente 14.000 canais ativos a menos no mesmo período. Apesar de outros fatores poderem ter tido influência nos números, como a saída de streamers internacionais para contratos exclusivos com outras plataformas e números possivelmente inflados na semana anterior devido à Gamescom, os dados ainda são válidos.

Números referentes ao apagão da twitch divulgados pela gamesight
Números referentes ao apagão da Twitch divulgados pela Gamesight

Agora, em termos de atitudes tomadas pela Twitch, o sucesso do protesto ainda há de ser visto: A plataforma não comentou sobre o acontecido, e o discurso de que ainda está trabalhando para tentar amenizar a proliferação de assédio e discursos de ódio contra streamers. Enquanto isso, usuários e outros terceiros vêm criando ferramentas próprios para combater isso, como o Streamlabs, companhia que trabalha com gerenciamento de streams que lançou o Safe Mode no mesmo dia, um programa gratuito que consegue parar os ataques massivos enquanto estão acontecendo, aparentemente. Há, ainda iniciativas que abordam a questão do valor das inscrições de forma mais pacífica, como a União dos Streamers, que busca diálogo ao invés de greves.

Pouco temos a fazer, agora, além de aguardar cenas dos próximos capítulos. Se haverá outro apagão da Twitch ou algum tipo de iniciativa parecida, ou se a plataforma irá dirigir palavras aos “grevistas”, não sabemos — resta esperar que o movimento acelere, de alguma forma, o desenvolvimento de ferramentas nativas de combate. Em termos de revisão nos valores das inscrições, há menos perspectiva de mudanças ainda. Nas palavras de uma das organizadoras do apagão internacional, Lucia Everblack:

“Enquanto nós talvez não atingimos a Twitch em uma escala significativa em termos de impacto financeiro, nossa ausência certamente foi sentida.”

Lucia Everblack, criadora de conteúdo na Twitch

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Fontes: The Verge | Happy Mag | IGN | Twitter

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