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Pela primeira vez, Brasil assume topo da lista de hashtags disparadas por bots no Twitter

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#MaiaTemQueCair e #FechadoComBolsonaro tiveram um grande número de disparos feito por bots, conforme monitoramento da BotSentinel

Nesta segunda-feira (27) o Brasil fez história no Twitter, mas não de uma forma positiva: pela primeira vez, uma hashtag de fora dos Estados Unidos entrou no topo da lista de monitoramento da BotSentinel, que monitora as atividades de publicação surgidas de contas falsas – os conhecidos “robôs” ou “bots”. Desde o dia 24 de abril, quando Sérgio Moro anunciou sua saída do Ministério da Justiça, a plataforma começou a perceber um aumento nos disparos da hashtag #FechadoComBolsonaro:

https://twitter.com/BotSentinel/status/1253836132472836100

Entretanto, a hashtag que atingiu o topo da lista é a #MaiaTemQueCair, que teve grande movimentação entre contas falsas localizadas aqui no Brasil. A informação foi revelada por Christopher Bouzy, fundador da BotSentinel, que descobriu esta estranha movimentação ao testar um novo algoritmo de monitoramento para publicações automáticas em larga escala.

O espanto de Bouzy ocorreu pelo fato de ser a primeira vez que uma hashtag de fora dos Estados Unidos aparece no topo da lista de maior atividade mundial de contas falsas, e é possível ver que o Brasil ocupa não apenas o primeiro lugar da lista mas também o terceiro, com a hashtag #MaiaVaiCair.

De onde surgiram esses bots?

Fica claro que ambas as hashtags brasileiras que aparecem na lista pedem a saída do cargo de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados. Mas porque surgiu tanta atividades de contas falsas “pedindo a cabeça” do deputado de uma hora para a outra?

Como podemos ver ao acessar a hashtag, quase todas as postagens partem de contas de apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro, então a maior probabilidade é de que a subida dessa hashtag foi encomendada como uma forma de desmoralizar o atual presidente da Câmara dos Deputados.

Isto ocorre justamente em um momento em que Maia possui um certo “poder” sobre o presidente, já que ele é o responsável por decidir se será ou não aberto um processo de impeachment contra Bolsonaro. Desde sexta-feira, diversos partidos têm enviado à Câmara pedidos de abertura do processo de impeachment, e é Maia que decidirá se estes serão aceitos ou não.

Rodrigo maia
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia é quem irá decidir sobre a abertura de processo de impeachment para o presidente Jair Bolsonaro (Imagem: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

Esse grande volume de pedidos acontece desde a renúncia do ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro na última sexta-feira (24), que entregou o cargo acusando o presidente Bolsonaro de tentar interferir nas investigações da Polícia Federal com o intuito de proteger os filhos, cujos nomes constam em alguns inquéritos da PF.

Até o momento Maia tem se recusado a comentar sobre os pedidos de abertura de processo de impeachment, mas de acordo com fontes próximas ao deputado ele tem pregado cautela quanto a esses pedidos, dizendo que irá esperar as denúncias feitas por Moro serem totalmente investigadas antes de decidir se dará prosseguimento a esses pedidos. Essas fontes ainda dizem que ele não acredita que este seja o momento para se iniciar um impeachment, já que o Brasil ainda está combatendo a pandemia de COVID-19.

Já para os parlamentares que enviaram os pedidos, está claro que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, pois o que motivou a saída do ex-ministro foi que, no mesmo dia de sua demissão, o Diário Oficial havia confirmado a demissão de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Moro ainda divulgou para o Jornal Nacional mensagens que indicavam que o motivo para a demissão era o fato de algumas operações da PF terem entre os nomes investigados os filhos do presidente.

Como funcionam os bots

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Bots são usados nas redes sociais para se forçar alguns assuntos na agenda pública (Imagem: Bots Brasil)

Aquilo que chamamos de bots na verdade são programas que, muitas vezes, se utilizam de inteligência artificial para efetuar publicações automáticas nas redes sociais. Muitas vezes esses programas são bem úteis (por exemplo, os sistemas de ajuda de grandes lojas que permitem o auxílio automático a clientes mesmo em horários onde não há um atendente real presente), mas muitas vezes essa tecnologia pode ser usada para fins menos nobres.

E é justamente com este fim que costumamos falar sobre os bots que levantam hashtags nas redes sociais. Neste caso, esses bots não passam de contas falsas criadas para uso em locais como o Twitter e o Facebook, com o objetivo de tentar manipular a agenda pública, ou seja, o assunto que se está sendo falado no momento, e qual é o direcionamento que se quer dar para este assunto.

A técnica vem sendo usada com muito sucesso há anos, e se tornou mais conhecida do público quando diversas contas falsas criadas na Rússia foram encontradas manipulando a opinião pública durante as eleições para presidente nos Estados Unidos em 2016, e esta manipulação foi um dos fatores que ajudou a eleger Donald Trump naquele momento.

No geral, essas contas falsas não são administradas uma a uma, mas de forma coletiva, utilizando as tecnologias de rede para efetuar o disparo em massa de mensagens. Isso permite que, de uma só vez, milhares de contas comecem a falar sobre o mesmo assunto, o que ajuda a deixar uma determinada hashtag em evidência e, aos poucos, contas de pessoas reais que concordam com o conteúdo postado pelos bots comecem também a reproduzi-lo, dando a impressão de que se trata de um movimento orgânico da rede social, e não algo forçado através de disparos em massa.

Um dos casos mais recentes deste tipo de manipulação ocorreu no fim do mês de março, quando milhares de contas passaram a tuitar sobre a história do “primo do porteiro do prédio que morreu ao tentar trocar o pneu de caminhão” e, no atestado de óbito, teria sido escrito que a causa da morte foi COVID-19.

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História do primo do porteiro foi uma fake news divulgada pelo uso massivo de bots (Imagem: E-Farsas)

Essa história na época fez um certo sucesso nas redes sociais, mas uma olhada mais a fundo na hashtag mostrava que se tratava da ação de bots. Afinal, eram centenas de perfis de pessoas diferentes e de regiões diferentes do país falando a mesma história, e usando exatamente o mesmo texto para contá-la.

Na época que esta narrativa surgiu, o Brasil passava pelo início de um crescimento no número de mortes por causa do novo coronavírus, e enquanto muitas pessoas começavam a levar mais a sério a ideia de quarentena e de se isolarem dentro de casa, havia também o interesse de se criar uma narrativa de que tudo aquilo era exagero e que a doença não era assim tão letal. Essa história do pneu veio justamente para tentar criar um fato extraordinário (e, por isso mesmo, compartilhável) que “provava” que havia uma má-fé da comunidade médica para se aumentar o número de mortos pela doença.

Fonte: perfil de Christopher Bouzy no Twitter, MoneyTimes, E-Farsas, Bots Brasil

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