Dia 26 de abril de 2017 foi um dia histórico para a exploração espacial. A sonda Cassini fez um “mergulho” em uma região da atmosfera de Saturno até então nunca explorada. As informações obtidas pela sonda começaram a chegar à Terra na madrugada de quinta-feira e as primeiras imagens foram divulgadas pela Nasa logo pela manhã. O mergulho saturniano marcou a fase final da missão Cassini-Huygens. Ao mesmo tempo, o legado da missão marca uma série de pontos de partida para os cientistas que estudam a dinâmica dos planetas.
Na manhã do dia 27 de abril as imagens inéditas da atmosfera de Saturno vieram a público. As imagens foram obtidas à menor distância já alcançada da atmosfera daquele planeta. A região inexplorada que a Sonda Cassini desbravou no dia anterior é uma faixa de pouco mais de 2400 km situada entre Saturno e os seus famosos anéis.
A missão Cassini-Huygens
Iniciada em 1997 quando a sonda Cassini, um orbitador desenvolvido pela Nasa, e a sonda Huygens, um aterrissador desenvolvido pela ESA (Agência Espacial Europeia), foram lançadas ao Espaço para uma viagem que duraria sete anos até alcançar a região de Saturno e suas luas.
A missão Cassini-Huygens demandou 20 anos de planejamento e desenvolvimento e é uma das principais missões do programa Flagship, conjunto de missões organizadas pela Nasa para a exploração do Sistema Solar (as missões Viking, Voyager e Galileu também fazem parte desse conjunto de iniciativas).
Após os sete longos anos de estrada, ou melhor, de viagem interplanetária, seguiram-se outros 13 de estudos e campanhas de aquisição de dados sobre as luas de Saturno e a atmosfera do planeta gigante (é o segundo maior do Sistema Solar, atrás apenas de Júpiter).
Como muitas vezes acontece em campanhas científicas inéditas, as informações que a sonda Cassini proporcionou aos cientistas da Nasa direcionaram os estudos para um caminho diferente do inicialmente planejado. Cassini-Huygens era uma missão focada no planeta Saturno, mas foi sobre as suas luas que vieram as principais mudanças de pensamento e informações relevantes.
A sonda Huygens foi construída para estudar Titan, a maior lua de Saturno. Logo em sua entrada na atmosfera de Titan, em 2005, as primeiras informações relevantes vieram à tona. A atmosfera mais alta de Titan possui uma composição química na qual há uma grande quantidade de materiais orgânicos, um fator importante para o desenvolvimento de condições “habitáveis” para seres vivos.
Outro ponto importante foi a descoberta de que a lua possui ciclos de metano parecidos com o ciclo da água na Terra, evaporando para a atmosfera a partir de lagos na superfície, uma ótima referência comparativa para entender melhor o próprio ciclo climático na Terra e em outros planetas.
A outra lua que dividiu o palco com Titan como principal estrela do show foi Enceladus. Cassini proveu aos pesquisadores na Terra as informações que culminariam na descoberta de um oceano líquido de água e de Geysers em plena lua saturniana. Apesar de inicialmente pensada para estudar primariamente a atmosfera de Saturno, Cassini acabou por revelar informações importantes sobre a possibilidade e condições de vida fora da Terra.
Final e começo de mão dadas
Agora que o combustível da nave se esgotou, a cada volta orbital que Cassini dá, a sonda perde altitude e ruma para ficar em silêncio em meados de setembro, quando é esperado que os últimos sinais sejam enviados para a Terra.
O Grand Finale de Cassini iniciado no último dia 26 com as imagens inéditas da atmosfera de Saturno é também o início de uma série de estudos que continuarão por muito tempo, mesmo depois da morte da sonda. A missão esclareceu dúvidas sobre Saturno e suas luas, mas abriu muitas perguntas também.
Como todo grande marco da ciência, o Grand Finale da missão Cassini-Huygens marca também um Grand Debut para novas pesquisas e campanhas.
