Fim do pop? Entenda a influência das redes sociais na indústria musical. Tendências virais e preocupação por números de streams estão impactando o cenário musical e fazendo quantidade sobressair qualidade

Fim do pop? Entenda a influência das redes sociais na indústria musical

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Tendências virais e preocupação por números de streams estão impactando o cenário musical e fazendo quantidade sobressair qualidade

Obviamente que mudanças ocorrem de geração para geração, afinal, todos sabemos identificar os elementos diferentes entre uma música pop dos anos 70 e outra dos anos 2000, por exemplo. Acontece que de uns tempos para cá, o surgimento da internet transformou radicalmente a maneira como consumimos, descobrimos e interagimos com a música. A influência das redes sociais na indústria musical tem se tornado algo tão surpreendente, que até mesmo questionamentos sobre o futuro do pop começaram a surgir. Será possível um gênero morrer de vez? Apenas o fato de já se cogitar essa ideia, nos mostra o poder das plataformas digitais.

Nesse artigo, exploraremos em profundidade como a internet tem moldado o panorama musical, desde o surgimento de novos artistas até o fenômeno TikTok. Entenda mais a seguir!

Globalização e o “Pop Mundial”

Fim do pop? Entenda a influência das redes sociais na indústria musical. Tendências virais e preocupação por números de streams estão impactando o cenário musical e fazendo quantidade sobressair qualidade
Fenômeno da globalização ajudou no sucesso de artistas que marcaram época (Imagem: Billboard)

A verdade é que ambos têm uma profunda relação desde às últimas décadas do século XX. A globalização, em seu sentido mais amplo, é o processo de interconexão e interdependência entre diferentes partes do mundo, impulsionado por avanços tecnológicos, econômicos e culturais. Basicamente, é a forma como o mundo está cada vez mais conectado e, por conta disso, na esfera musical, a globalização acabou facilitando a disseminação da música pop — não à toa, o gênero veio a ser criado do que se caracteriza como popular.

Mas como se deu isso? Uma interconexão cultural, devido à globalização, permitiu que músicas de diferentes partes do mundo fossem facilmente compartilhadas e consumidas em escala global. Em outras palavras, a criação da tecnologia gerou a internet, que por sua vez, facilitou todo esse processo. Isso levou a uma mistura de influências culturais na música, resultando em uma diversidade bem rica de estilos e sonoridades. No entanto, preocupações sobre a homogeneização desse gênero pop também vieram à tona. À medida que a música se tornava mais acessível, alguns críticos argumentavam que ela estava perdendo sua autenticidade cultural, moldada para se adequar a um padrão comercial global.

Ao longo do tempo, a indústria da música acabou evoluindo significativamente, se adaptando aos avanços tecnológicos e às mudanças nos padrões de consumo. Inicialmente impulsionada pela rádio e pela televisão, ela se expandiu para abraçar formatos como vinis e CDs. Mas foi apenas com o surgimento da internet que a globalização da música atingiu uma proporção verdadeiramente gigantesca. Plataformas de streaming e sites de compartilhamento de vídeos permitiram que novos artistas pudessem alcançar um público bem maior, sem dependerem das grandes gravadoras. Isso também democratizou o acesso à música e abriu espaço para uma gama mais ampla de estilos e subgêneros dentro do que hoje conhecemos como pop.

Além disso, a tal da interconexão cultural também facilitou a formação de comunidades de fãs ao redor do mundo. De maneira geral, isso foi até um dos maiores benefícios advindos desse efeito da globalização, pois foi através dessa interação entre os países que resultou o sucesso estrondoso de artistas que conhecemos por serem gigantescos até hoje como Michael Jackson, Madonna, Beyoncé e Taylor Swift.

A verdade é que a globalização revolucionou a forma como a música pop é criada, distribuída e consumida, mas o que muitos nem suspeitavam anos atrás é que dela surgiria o grande fenômeno chamado: redes sociais. Se formos considerar que elas são apenas uma ramificação dentro do que é a tecnologia e a internet, então podemos ter uma noção do que algo “pequeno” pode ser capaz de fazer. No fim das contas, foram através das redes sociais que tendências musicais surgiram, além da troca contínua de ideias e influências culturais. O Tiktok é e ainda persiste sendo um dos maiores responsáveis nesse contexto.

Entrada do TikTok no cenário musical

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Influência de rede social é gigantesca atualmente (Imagem: Somos Música)

A participação do TikTok na indústria musical foi um fenômeno marcante que redefiniu a forma como, principalmente o gênero pop, é descoberto e ouvido. Sua popularidade explosiva se deu, em grande parte, à capacidade de oferecer uma experiência de entretenimento altamente envolvente e viral. Seus usuários podem escolher trilhas sonoras de uma vasta biblioteca de músicas licenciadas e sincronizá-las com seus vídeos. Isso acabou abrindo uma forma inédita de promoção para artistas e selos musicais, permitindo que os trabalhos pudessem se tornar virais organicamente, impulsionados pelas famosas dancinhas, memes, edits e trends.

Mas algo mais impressionante dentro da plataforma é o algoritmo, conhecido pela capacidade de recomendar conteúdo de forma altamente personalizada. Quando um usuário cria um vídeo usando uma determinada música, por exemplo, se identifica padrões de engajamento, o que faz começar a recomendar justamente essa música para outros usuários com base em interesses e comportamentos de navegação. É por causa desse algoritmo, que o efeito de viralização ocorre instantaneamente e, por consequência, uma música desconhecida se torna um sucesso global da noite para o dia. Vale dizer que tudo começou no período da pandemia, com artistas impossibilitados de realizar shows ao vivo e o TikTok sendo um dos principais meio de conexão com o público.

Além disso, o aplicativo se tornou uma plataforma acessível e democrática para artistas independentes e desconhecidos ganharem visibilidade também. Ao contrário dos tradicionais gatekeepers da indústria musical, como gravadoras com contratos, ele permitiu que qualquer pessoa com uma boa ideia tivesse a chance de alcançar milhões de ouvintes em todo o mundo com facilidade. Fora isso, também serviu não apenas como um espaço de entretenimento, mas também como um meio eficaz na exploração de diferentes gêneros musicais e até antigos. Um exemplo disso foi o retorno de sucessos como Running Up That Hill de Kate Bush e Murder On The Dancefloor de Sophie Ellis-Bextor, vindos da repercussão da série Stranger Things e do filme Saltburn, respectivamente. Tudo efeito da globalização.

Mas a entrada do TikTok no cenário musical também gerou debates sobre questões como a monetização do conteúdo musical na plataforma e os direitos autorais envolvidos. Enquanto alguns artistas e selos abraçaram o aplicativo como uma ferramenta poderosa de promoção, outros expressaram preocupações sobre a compensação justa pelos streams gerados e o controle sobre seu próprio conteúdo. Recentemente, um episódio com a Universal Music Group foi bastante discutido, uma vez que todas as músicas de artistas da gravadora tiveram que ser retiradas por conta de propriedade. Cantores como Taylor Swift, Billie Eillish, The Weeknd e até Anitta acabaram afetados, prejudicados em relação a divulgação de seus trabalhos.

No entanto, um dos pontos negativos que mais parecem incomodar atualmente, é que a influência do TikTok na música pode estar se tornando exagerada. É uma “faca de dois gumes”, afinal, embora a rede social tenha grandes vantagens, ainda pode ser passível de mudar todo um gênero de modo a pararmos para cogitar até na extinção dele. Com o advento da globalização, a velocidade com que o sucesso dos artistas se propaga parece estar em excesso e a consequência disso é visível em termos de qualidade, seja em aspectos como a melodia de uma música ou a sua composição.

O caminho pelo Tiktok pode ser incrível, mas a busca constante pela ‘Tiktokrização’ das coisas é desastrosa.

Renata Monte, jornalista e produtora para O Povo

Streaming: a nova métrica do sucesso

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Plataformas de streaming são os principais medidores de sucesso na indústria (Imagem: Divulgação/Montagem)

Com a ascensão dos serviços de streaming, como Spotify, Apple Music, Deezer e outros, uma nova métrica de sucesso surgiu na indústria musical: a quantidade de reproduções. Antes, o sucesso de uma música era medido principalmente pelas vendas de álbuns e singles ou pelo número de vezes que era tocada no rádio. No entanto, com a chegada do streaming, a contagem de reproduções se tornou o principal indicador de popularidade e sucesso.

Com essa mudança de paradigma, diversos artistas e gravadoras estão agora sob pressão para manter um fluxo contínuo de conteúdo, alimentando um apetite voraz do público por novidade e variedade. Como resultado, alguns críticos argumentam que a qualidade da música é sacrificada em favor da quantidade, com artistas optando por lançar trabalhos rápidos e descartáveis ao invés de trabalhos mais elaborados e coesos. Atualmente, no Brasil, muitas das músicas de maior sucesso pop são aquelas em que os versos se repetem o tempo todo em refrãos, e a melodia é criada apenas em detrimento de danças que podem ser geradas dentro do TikTok para viralizar.

Consequentemente, essa dinâmica também está afetando a forma como os artistas são divulgados. Com algoritmos de recomendação impulsionando a descoberta de música nas plataformas de streaming, aquelas faixas que geram altos volumes de reproduções rapidamente tendem a receber mais destaque. Isso acaba criando um ciclo de retroalimentação, no qual músicas populares se tornam ainda mais populares, enquanto artistas menos conhecidos lutam para encontrar visibilidade, mesmo que tenham produzido trabalhos de alta qualidade. É como se a competição por audiência estivesse mais desafiadora. Por outro lado, os efeitos do streaming também deram oportunidade à democratização com benefícios significativos para aqueles artistas independentes e de nicho, permitindo alcançar um público global sem depender de terceiros.

Mas enquanto criar um hit pode ser mais fácil agora, também se tornou uma dificuldade de certa forma. A viralização, muitas vezes, pode ser imprevisível. Contudo, é inegável o impacto das listas de reprodução de streaming, capazes de levar uma música a públicos massivos de maneiras que a mídia analógica jamais conseguiria. Envolver de Anitta, por exemplo, conseguiu chegar ao Top Global do Spotify, gerando tamanho impacto positivo por colocar uma artista brasileira nesse patamar. Assim, os artistas se veem moldando suas músicas conforme as tendências e o que são chamados “hits do TikTok“, buscando atingir o mesmo alcance que aqueles de uma época passada.

Mudanças influenciadas pelas redes

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Grande parte do sucesso de Taylor Swift se deu pela influência das redes sociais (Imagem: Getty Images)

Afinal, quais foram as mudanças significativas influenciadas pelas redes sociais?

Um dos principais benefícios foi o alcance expandido. Como já mencionado, artistas podem agora alcançar um público global instantaneamente, sem depender de intermediários tradicionais como gravadoras. Fora isso, é essencial citar as trends. Coreografias e montagens de vídeos, por exemplo, são elementos que se destacam hoje em dia, ajudando a catapultar sucessos e criar um engajamento relevante. Um exemplo marcante dessas mudanças impactadas pela internet é a trajetória de Taylor Swift. Com equilíbrio, a cantora soube aproveitar das plataformas para compartilhar seu trabalho, interagir com os fãs e promover lançamentos de diversos álbuns sem se prejudicar. Sua turnê global The Eras Tour segue por todos os continentes e é prova disso.

Um aspecto negativo que vale destacar pelas mudanças foi a propagação rápida de conteúdos e tendências efêmeras, que muitas vezes podem eclipsar o talento genuíno e a originalidade artística. Nesse ambiente de busca pelo próximo grande sucesso, há uma pressão crescente sobre os artistas para se adaptarem às demandas do momento, muitas vezes sacrificando sua autenticidade em prol de seguir modismos passageiros. Isso pode resultar em uma homogeneização da música pop, onde o valor artístico é frequentemente subjugado pela busca por popularidade instantânea e atenção na internet.

Para complementar essa questão, em entrevista para o Correio Braziliense, para Cristiane Simões, diretora de marketing e promoção da Sony Music Brasil, a presença na internet já não é mais apenas uma ajuda, mas sim uma parte essencial da estratégia de marketing. Ela destaca o potencial do TikTok e até do Instagram para impulsionar sucessos, criar virais e até mesmo resgatar clássicos. Embora isso também possa parecer algo positivo em termos de agregar mais interação com os fãs, também pode ser um desafio para novos artistas que almejam despontar e construir uma carreira dentro da indústria.

No entanto, de maneira geral, a dependência exacerbada que se cria com as redes sociais por causa disso, é algo que deveria ser falado mais. Além disso, a busca pela quantidade de reproduções e o lançamento exagerado de músicas, pode levar ao desgaste da imagem do cantor, bem como podendo se tornar algo extremamente cansativo e até tóxico, em alguns casos. Todo esse esforço pode até levar à fadiga do próprio público e à perda de interesse em novos lançamentos e, no final das contas, o prejuízo acaba sendo muito maior para o artista.

O futuro da música pop: perspectivas

Fim do pop? Entenda a influência das redes sociais na indústria musical. Tendências virais e preocupação por números de streams estão impactando o cenário musical e fazendo quantidade sobressair qualidade
Topos de paradas da Billboard estão sendo compostos por músicas viralizadas em redes sociais (Imagem: Reprodução/Instagram)

Quando olhamos para o futuro, ainda é um pouco incerto ter uma resposta oficialmente sobre a música pop. Se compararmos o presente com o passado, certamente veremos diferenças drásticas, mas não existem muitos mais pontos positivos do que negativos e vice-versa. Há um grande balanço nesse sentido, mas ainda assim, artistas que precisam saber encontrar o equilíbrio dentro do que pode funcionar na indústria musical.

Um estudo recente revelou que as letras das músicas estão se tornando mais repetitivas e superficiais. Publicada na Scientific Reports, a pesquisa examinou mais de 353.000 letras de músicas em inglês abrangendo diversos gêneros, desde 1970 até 2020. Usando a plataforma Genius, os pesquisadores analisaram fatores como estrutura, rima, emoção e complexidade para compreender a evolução da composição musical ao longo das décadas e em diferentes gêneros. Os resultados apresentaram uma tendência de queda na qualidade lírica, com um aumento geral na repetitividade nas principais categorias musicais.

Além disso, o impacto da internet na música pop pode criar — e já está criando — uma dinâmica de conformidade, onde os artistas se sentem pressionados a seguir fórmulas pré-estabelecidas para alcançar o sucesso. Isso deixa um espaço bem menor para a inovação e a experimentação. Por outro lado, existe também a oportunidade para uma reação contra essas tendências, com artistas e ouvintes buscando música que ofereça uma experiência mais autêntica e significativa. O surgimento de movimentos como o bedroom pop (produção de músicas gravadas em ambientes caseiros), e uma crescente valorização de artistas independentes hoje em dia, pode indicar uma mudança em direção a uma abordagem mais diversificada e até inclusiva.

Em um mundo cada vez mais centrado no ego e influenciado pelas redes sociais, é exatamente a busca pela atenção instantânea que pode estar afetando a forma como as músicas são compostas e interpretadas, e assim, culminando em todas essas mudanças que analisamos. Se letras de composições continuarem a se tornar mais repetitivas e sem profundidade, isso pode piorar ainda mais a qualidade artística e a originalidade do gênero. A música pop pode perder parte de sua identidade distintiva se sucumbir a meras tendências.

Conclusão

As mídias sociais definitivamente desempenham um papel na escrita de músicas, assim como a comunidade, os filmes e a televisão já desempenharam um papel.

Dame Aubrey, chefe de A&R (Artists and Repertoire) para CMG Records e Gestão

As redes sociais têm sido tanto uma bênção quanto um desafio para a indústria musical. Enquanto oferecem oportunidades para alcance e promoção, também apresentam dilemas complexos em termos de compensação, qualidade artística e sustentabilidade a longo prazo. Mas é importante lembrar que enquanto o streaming pode ter mudado a maneira como medimos o sucesso na música, a qualidade ainda é um componente essencial para uma boa parcela de ouvintes.

O futuro da música pop dependerá da capacidade dos artistas e do mercado como um todo, de equilibrar as demandas comerciais com a busca pela expressão artística genuína. Encontrar esse equilíbrio pode ser fundamental para garantir que a música pop continue a evoluir e a inspirar audiências em todo o mundo.

Veja também:

Tudo que você não sabia sobre o TikTok

Fontes: WIRED, Correio Braziliense, O Povo

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim

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