Ilustração do sistema solar.

Sistema solar: entenda como funciona a rotação dos planetas

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Um dos fatores que fazem os planetas orbitarem o Sol é a quantidade de massa que os compõem. Confira os motivos e teorias sobre o funcionamento do sistema solar.

Há séculos, o funcionamento do sistema solar desperta a curiosidade da humanidade. Prova disso são as inúmeras pesquisas e produções audiovisuais acerca do tema publicadas anualmente, seja no ambiente acadêmico, cinematográfico ou nas redes sociais. E foi justamente nas mídias sociais que uma publicação sobre o tema despertou a curiosidade de diversas pessoas.

O sistema solar como você nunca viu antes

Em poucos segundos, e sem maiores explicações, uma animação publicada como reels mostra duas formas de funcionamento do sistema solar. Na primeira, é apresentado o sistema solar como ele é comumente conhecido com os dizeres: “como as pessoas acham que funciona o sistema solar”. Até este ponto nada novo. 

Ilustração mostra como é o sistema solar se fosse visto de cima.
Sistema solar (Ilustração: Depositphotos)

No entanto, na segunda parte, o vídeo compara e sugere um funcionamento em forma de vórtice, caracterizado por movimentos velozes e circulares dos planetas e do Sol. A animação foi publicada no Instagram e no TikTok em 2019, porém, ocasionalmente, ela volta a surgir nas redes

A imagem é um trecho do vídeo sore o suposto funcionamento do sistema solar.
(Imagem: Reprodução)

Mas será que isso é verdade? Será que o Sol e os planetas funcionam de forma diferente da que aprendemos? Ao longo desta matéria vamos te explicar o porquê do vídeo não estar totalmente errado.

Como funciona o sistema solar?

Antes de tudo, precisamos entender o que é e como funciona a nossa galáxia. E vamos começar pelo Sistema Solar como um todo. 

Segundo estimativas de cientistas e pesquisadores, o nosso Sistema Solar foi formado há cerca de 4,6 bilhões de anos. Atualmente, a hipótese mais aceita sobre o surgimento do universo é a Teoria Nebulosa, apresentada pelo filósofo alemão Immanuel Kant, em 1755, e desenvolvida pelo matemático francês Pierre-Simon Laplace, décadas depois (1796).

Representação da via láctea.
Ilustração da Via Láctea (Imagem Depositphotos)

De acordo com a hipótese, o sistema solar se formou após o colapso de uma nuvem de poeira e gás originada da explosão de uma estrela próxima. A atração gravitacional do núcleo dessa nuvem, ou melhor, dessa nebulosa, começou a reunir material, até que a pressão interna ficou gigantesca. 

Foi neste período que átomos de hidrogênio passaram a fundir-se, dando origem ao hélio e desencadeando uma liberação imensa de energia. Foi assim que o Sol, que absorveu mais de 99% da matéria disponível, nasceu.

“Grande parte dessa matéria, a mais densa, foi levada ao Sol formando a estrela. É preciso muita matéria concentrada para formar uma estrela e a parte mais rarefeita foi se aglomerando e formando os planetas e os asteroides”, explica o professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e vice-presidente do Núcleo de Astrofísica e Cosmologia (Cosmo/Ufes), Davi Rodrigues. 

A grande concentração de massa do Sol gera uma energia gravitacional que faz os planetas orbitarem o Sol. De acordo com a Teoria de Kepler, considerando o Sol como um referencial fixo, os planetas têm movimento circular uniforme em torno dele. 

Outra teoria que explica o funcionamento dos planetas é a Gravitação Newtoniana. Segundo a teoria, desenvolvida por Isaac Newton, a força da gravidade entre corpos com massa é sempre atrativa e inversamente proporcional à distância entre eles.

“Se, por exemplo, existisse um planeta e ele estivesse em repouso em relação ao Sol, o que aconteceria com ele? Devido à força gravitacional, simplesmente ele cairia no Sol. Mas os planetas não têm essa propriedade, eles não estão indo em direção ao Estrela, eles estão rodando ao redor do Sol”, explica Davi Rodrigues.  

Posto isso, o questionamento que surge é como os corpos podem manter essa rotação sem colidirem com o Sol. Segundo o professor da Ufes, Davi Rodrigues, o sistema solar foi formado não de uma matéria que estava parada a respeito do Sol, mas a partir de matérias que tinham certo momento angular — estavam em rotação no momento em que se formaram —, então tudo estava girando.

Organização dos planetas na órbita do Sol

Conforme falamos acima, os planetas são formados por massa, porém, com quantidades diferentes. Por exemplo, Mercúrio, que é bem próximo ao Sol, tem uma quantidade menor de matéria em relação à Terra. 

Ilustração do sistema solar.
Sistema solar (Ilustração: Depositphotos)

Davi Rodrigues explica que à medida que você se afasta do Sol é possível encontrar planetas mais massivos que a Estrela. Outro exemplo claro disso é Júpiter, planeta mais massivo do sistema solar, que se encontra mais afastado do Sol. Depois dele existem planetas com massas menores. 

Davi Rodrigues explica que a questão das massas dos planetas não é o fator principal para justificar a organização dos deles em torno do Sol. “Inclusive, a gente conhece outros sistemas estelares, com planetas super massivos, tipo Júpiter, que está bem juntinho da Estrela”, diz.

“Agora uma propriedade que eles têm é que conforme mais afastado o Sol, a principal massa, menor será a velocidade de rotação. Ou seja, Mercúrio tem que rodar bem rápido. Enquanto os mais afastados, giram mais devagar”, pontua.

É uma questão de referencial

Para entendermos se o Sol, assim como é apresentado no vídeo, está ou não em movimento em relação aos planetas é preciso entender qual referencial é usado para estabelecer quem está se movendo em relação a quem. 

Na física o referencial é um corpo ou um local usado para saber se outro corpo ou objeto está ou não em movimento. “Um ponto material está em movimento em relação a um referencial quando a sua posição varia com o tempo em relação a esse referencial”, explica uma publicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Da mesma forma, segundo a UFRGS, o ponto material poderá ser considerado em repouso em relação ao referencial quando a posição não varia com o tempo. 

“Imagine, por exemplo que você está em uma espaçonave próxima ao sol. Você está em repouso em relação ao Sol. Então o que seria esperado? O que você veria? Você veria o Sol parado, pois a espaçonave está em repouso em relação a ele, e os planetas estariam girando ao redor do Sol. Agora imagine que você pega essa espaçonave e começa a sair em alta velocidade, saindo do sistema solar. O que você vai ver? A mesma imagem do vídeo. Ou seja, você vai ver o sol andando com os planetas rodando no entorno dele”.

Davi Rodrigues, professor no Departamento de Física da Ufes

Na primeira parte do vídeo, a imagem que aparece é familiar, o Sol no centro e os planetas girando ao redor da estrela. Novamente, aquela representação depende do referencial, que pode, por exemplo, ter sido uma espaçonave saíndo da Via Láctea

“Se fosse possível sair da nossa galáxia veríamos o funcionamento do sistema solar daquela forma: um monte de matéria girando em torno do centro da galáxia e a Terra ali no meio”, avalia Davi Rodrigues.

A rotação do Sol na galáxia

O funcionamento do galáxia, mais especificamente da Via Láctea, não se difere muito do funcionamento do nosso sistema solar. Mudando o referencial dado no exemplo anterior, e usando como referencial a Via Láctea, o Sol está em movimento em relação a galáxia. 

Ou seja, da mesma forma que os planetas giram em torno do Sol, ele também gira em torno de alguma coisa, no caso, em torno do centro da galáxia.

Animação produzida pela Agência Espacial Europeia (ESA), com o objetivo de apresentar o warp, uma ondulação encontrada na Via Láctea. Davi Rodrigues explica que mesmo sendo muito semelhante a um disco, a nossa galáxia tem uma certa ondulação.

De acordo com Davi Rodrigues, do mesmo modo que os planetas giram em torno da Estrela, devido a força gravitacional, o Sol segue a mesma lógica girando no centro da galáxia. “A galáxia tem uma quantidade de matéria muito maior que a do sistema solar”, explica. A prova dessa grande quantidade de matéria é explicada com a teoria nebulosa. 

A diferença é que no sistema solar praticamente toda a massa está concentrada no Sol e no planeta mais massivo, Júpiter, no caso. Já na galáxia não há uma fonte gravitacional tão concentrada que domine toda a Via Láctea. 

Davi Rodrigues explica que ainda não é possível sair da Via Láctea para observá-lá de fora, no entanto, podemos observar outras galáxias e notar que elas parecem um disco. “Normalmente é uma estrutura luminosa, tipo um disco. Tem galáxias que são mais diferentes, mas existem galáxias mais parecidas com a Via-Láctea”, diz.

No quesito funcionamento, as galáxias têm o mesmo modus operandi, ou seja, as estrelas estão rodando em torno da galáxia. “A maior parte da matéria é de estrelas e essas estrelas estão rodando”, conclui.

Mas afinal, o vídeo é verdadeiro? O sistema solar é um vórtice?

O vídeo não está errado. Entretanto, afirmar que o sistema solar funciona em forma de vórtice, como mostra a segunda parte do vídeo, sem explicar qual referencial é usado, pode tornar a informação errônea.

Veja também:

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Fontes: Professor Davi Rodrigues, National Geographic Brasil, Unesp, UFSM, Brasil Escola, UFRGS

Revisado por Glauco Vital em 21/9/23.

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