REVIEW: The Last of Us é a obra-prima de sempre num port mediano

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A intensa e emocionante jornada de Joel e Ellie num mundo apocalíptico de The Last of Us Part I ganha port para PC. Veja a análise.

Em The Last of Us Part I, assumimos o papel de fortes protagonistas, principalmente de Joel, um traumatizado e recluso pai que passa por desafios no início de uma cruel pandemia global. Pandemia esta provocada por uma infecção cerebral descontrolada, causada por um estranho fungo chamado Cordyceps

Nessa intensa jornada, vivenciamos muitas emoções e conflitos com personagens muito fortes e emocionalmente profundos o tempo todo, com uma linda direção de arte, gráficos aprimorados no seu remaster (porém com alguns problemas no PC), um design de som arrebatador e trilha sonora muito tocante, além de diversos outros atributos muito marcantes e importantes para a indústria dos games

Venha conferir esta análise definitiva e todas as nossas impressões da versão remasterizada, portada para PC, desse grande sucesso da Sony e da Naughty Dog.

O começo do fim

Tudo começa num dia comum, quando Sarah acorda com a chegada tardia do pai em casa e ambos trocam algumas palavras de afeto paternal e assistem TV até ela pegar no sono novamente. Seu descanso é interrompido por barulhos altos e estranhos e, pouco a pouco, toda a narrativa vai se construindo, mostrando o ambiente caótico que se forma rápida e descontroladamente em Austin, Texas. 

Até chegar em seu ápice pandêmico e num mundo perdido para a infecção fúngica do Cordyceps, capaz de transformar as pessoas em verdadeiros seres violentos e sem capacidade racional, além dos diversos conflitos humanos (a FEDRA contra os Vagalumes, por exemplo), The Last of Us vai apresentando, pouco a pouco, um dos seus pontos mais fortes: transições em tempo real entre cutscenes e momentos de devolver o controle do personagem de forma quase imperceptível. Esse feito técnico é impressionante e raro, ainda mais aliado a uma direção de arte muito bem feita, independente do ano de estreia do jogo.

Screenshot de the last of us part i - sarah, filha de joel, é a primeira personagem que você controla (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
Sarah, filha de Joel, é a primeira personagem que você controla Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Não só isso como, ao longo do jogo inteiro, existe um equilíbrio perfeito entre tensão e alívio da tensão. Ora estamos enfrentando hordas imensas de infectados ou tentando flanquear inimigos furtivamente para abatê-los com armas de fogo ou brancas, ora relaxando um pouco ao acompanhar algum diálogo muito bem estruturado ou andando e contemplando belíssimos cenários de algumas cidades estadunidenses abandonadas.

História

TLoU Part I é dividido em cinco grandes atos: Prólogo, Verão, Outono, Inverno e Primavera, além de um rápido Epílogo e a DLC “Left Behind”, que acompanha a versão Deluxe do jogo (R$299,00) nas lojas. Nelas, muitos personagens ligados a Joel se interrelacionam e vivenciamos toda a caminhada longa dele com Ellie, uma adolescente curiosa, emotiva e muito especial para a franquia toda. 

Screenshot de the last of us part i - belos ambientes urbanos são retratados nesse mundo apocalíptico de the last of us part i (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
Belos ambientes urbanos são retratados nesse mundo apocalíptico de The Last of Us Part I (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Ambos protagonistas que acabam juntos na história muito por acaso, mas formam, com o tempo, uma dupla poderosa, corajosa e muito emblemática – e que serão capazes de conquistar sua atenção já nas primeiras horas – para toda linha cronológica da franquia.

Quanto ao Left Behind, você segue um momento desesperador de Ellie, do meio do jogo principal (vamos evitar spoilers por aqui, tá bom?), enquanto ela mesma se recorda de lindos momentos com sua amiga Riley. Para quem assistiu a série do HBO Max, já sabe – e já se emocionou -, mas o recorte temporal é extremamente emocionante. Então se prepare para fortes emoções.

A performance e a qualidade gráfica

Antes de mais nada, The Last of Us Part I foi jogado numa configuração bem de acordo com os parâmetros dos requisitos mínimos e recomendados estabelecidos nas lojas. A seguir, o setup completo em que foi experimentado:

Processador/CPUIntel Core i9-10900 KF (3.70 GHz)
Memória RAM16 GB
Placa de Vídeo/GPU NVidia GeForce RTX 3070 com 8GB de VRAM
ArmazenamentoSSD WD Black com leitura de 3430 MB e gravação de 2600 MB
MonitorAOC Hero 24” Full HD (1920 x 1080, 144Hz)

Assim que o jogo abre, primeiramente, é muito perceptível o esforço que o hardware precisa fazer para sustentar todos os gráficos e as mecânicas do jogo. Seria normal para alguns jogos da nova geração, não fossem os 100% de GPU e da sua memória dedicada consumidos a todo instante, além de todo o restante desse consumo exorbitante “gargalando” na execução do processador, chegando a números quase tão altos em oscilação. Até mesmo no menu ou no game pausado, o consumo era sempre o mesmo (!).

Vale pontuar que foi preciso jogar TLoU no limite indicado nas suas opções do menu, o qual é imposto como padrão para as capacidades da placa de vídeo. Neste caso, o limite recomendado chegou perto dos 7900 MB (quase 8 GB) consumidos e com um arranjo completo de texturas, iluminação, sombras e reflexos deixados no Alto/High. 

Screenshot de the last of us part i - alguns exemplos de configuração gráfica detalhada no port de pc (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
Alguns exemplos de configuração gráfica detalhada no port de PC (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Eis, então, outro problema de otimização: mesmo com um hardware potente, atual e dentro dos requisitos recomendados, o jogo lutava para se manter estável e, ainda assim, entregava gráficos abaixo do Ultra. Qualquer um dos detalhes ajustados nas configurações fazia com que o limite de memória fosse ultrapassado, inclusive.

Gráficos são um deleite quando estão nos padrões das tecnologias contemporâneas, mas são pouco relevantes na qualidade de joguinhos como um todo. The Last of Us Part I remasterizado alcança todo seu primor técnico presente no PS5, trava firmemente a taxa de quadros em 60 FPS e tem uma qualidade gráfica impecável no PC. Mas a que custo?

Os problemas do port para PC

Toda a sua performance parece engasgar em alguns movimentos de câmera e na transição para ambientes diferentes do jogo, há certa demora na renderização de texturas comuns de paredes e de objetos do cenário e até alguns pop ups (surgimentos repentinos) de artefatos no cenário. Além disso, os carregamentos são meio demorados, mesmo com o jogo instalado num ótimo SSD. 

Embora aconteçam muito de vez em quando, tudo isso pode tornar a experiência bem frustrante, e pode ser muito mais para muitos jogadores, vide toda a repercussão negativa (com razão) que houve na comunidade logo após seu lançamento. Enquanto isso, o computador em que foi jogado esquentava como uma fornalha e usava todo seu potencial energético com o jogo aberto.

Mouse e teclado também enfrentavam problemas – há algum stuttering (engasgos de imagem) exagerado, como se o motion blur – efeito de borrar a imagem em movimento com a câmera – não estivesse ativo, além de apresentar algum atraso de resposta em comparação ao uso do controle. Por isso, a jogatina tem sido melhor ao utilizar um controle de Xbox, DualSense ou qualquer outro joystick que seja compatível no PC. Contudo, a Naughty Dog subiu um hotfix recente que corrige problemas dessa natureza. 

Screenshot de the last of us part i - momentos contemplativos belíssimos em tlou vão derreter seu coração e te aliviar de toda a tensão passada (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
Momentos contemplativos belíssimos em TLoU vão derreter seu coração e te aliviar de toda a tensão passada (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Para mais detalhes e diferenças entre o jogo original e o remaster, além de sua produção, o Noclip publicou um ótimo documentário a respeito.

Embora o port tenha chegado de forma tão infeliz para a plataforma, a essência do jogo continua lá e, na sublime primeira experiência de quem vos escreve, grandes problemas não foram encontrados. Por consequência, nenhum bug, engasgada da imagem ou textura renderizada tardiamente na tela, por muito poucas que fossem, em nada atrapalharam a gameplay do início ao final. E é assim que foi possível vivenciar um dos jogos da década de uma forma muito boa, ainda assim.

Uma superprodução dos games

Dá para perceber todo o investimento da Sony e da Naughty Dog em cada esquina e canto desse jogo tão marcante. The Last of Us Part I, em sua versão remasterizada, traz consigo um primor técnico que para muitos seria inimaginável em pleno 2013 (ano de lançamento do original no PlayStation 3): seus gráficos são belíssimos, possui uma trilha sonora poderosa e comovente em vários pontos, sua jogabilidade é mega atraente e tem uma usabilidade e dificuldade bastante simplificadas a qualquer pessoa jogadora – da mais casual à mais assídua.

É certo que muito da Parte II foi reaproveitado nesse remaster da Parte I. Toda a luminosidade, texturas, volumetria e os terríveis serrilhados presentes nos gráficos do PS3 foram ajustados para um visual surpreendente, além de trazer mais vida e traços e expressões mais humanas a todas as personagens.

No aspecto narrativo e ainda técnico, como um grande filme, TLoU Part I embarca em temáticas tradicionais da cultura pop, mas com uma perspectiva inovadora, no melhor formato aventuresco e cinematográfico. Sua direção de arte é incrível e fascinante, seu design de som alcança níveis hiper realistas e imersivos, seu roteiro é um pouco acelerado mas completamente coerente (com exceção de um furo grande no final de Left Behind) e sua trilha sonora marcante puxa o melhor da música folk e country em poucas notas, remetendo aos melhores climas possíveis de westerns clássicos dos EUA.

Jogabilidade

É possível experimentar o melhor de mecânicas de furtividade, tiro e gerenciamento de recursos. Você pode construir kits médicos e bombas caseiras de objetos cortantes com itens encontrados – e muito justamente distribuídos – pelos ambientes todos. Com alguns desses objetos, também  melhoram-se algumas das suas várias armas em bancadas específicas e espalhadas pelas fases. Todos esses recursos e ferramentas se espalham muito bem e são encontrados em determinados locais dos diferentes ambientes.

Screenshot de the last of us part i - tlou é repleto de cenas interessantes e belas texturas e iluminações nos diversos cenários (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
TLoU é repleto de cenas interessantes e belas texturas e iluminações nos diversos cenários (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Abater infectados, clickers (estaladores, em português: infectados em um segundo estágio de evolução do fungo, que ficam cegos mas ouvem muito bem), Vagalumes e bandidos na furtividade é muito satisfatório e oferece um estilo de jogatina mais eficiente e econômico, enquanto conflitos diretos te darão, possivelmente, mais velocidade de resolução dos desafios e um playground completo com todas as suas armas à disposição (enquanto maneja as com munição disponível).

Nas “arenas” labirínticas de combate, existe uma dinâmica muito boa de objetos versus movimentação de quem joga. Há muito espaço e várias possibilidades de cobertura ou esconderijo da visão inimiga. E é preciso ficar atento à sua emissão do barulho de passos para evitar clickers, enquanto se evita a vigia e o flanqueamento de outros tipos de inimigos.

Screenshot de the last of us part i - a jornada de joel e ellie é extremamente forte e emocionante, uma aventura única dos videogames (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
A jornada de Joel e Ellie é extremamente forte e emocionante, uma aventura única dos videogames (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Por falar em inimigos, a Inteligência Artificial desse jogo é algo fora da curva. É muito incrível ver a forma como os inimigos te flanqueiam, se escondem e fazem de tudo para matar o protagonista. O mesmo vale para os mortos-vivos. Mesmo sendo menos inteligentes, em grandes hordas eles podem ser bastante perigosos. Principalmente levando em conta que estaladores e baiacus dão uma morte instantânea num só golpe (one hit kill).

Em suma, TLoU no PC pode até deixar a desejar em sua performance gráfica, mas ainda é extremamente satisfatório em cada uma de suas mecânicas, principalmente pela facilidade de assimilação que os comandos de um controle propiciam, a todo minuto que se passa. É um deleite completo, capaz de empoderar a pessoa jogadora, uma obra essencial para quem gosta de ação e aventura e prato cheio para quem dá valor a inúmeras rejogadas satisfatórias.

Possível ponto fraco

Mesmo diante de tanto investimento e sendo uma produção muito bem construída, sua narrativa ainda é sujeita a uma violência muito exagerada e é “cúmplice” de uma sociedade quebrada ainda antes do surto global do fungo mortal (é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo, não?).

Screenshot de the last of us part i - prepare-se para momentos tensos em tlou (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
Prepare-se para momentos tensos em TLoU (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Parece um esforço enorme, mesmo que dentro de algum simulacro da artificialidade no mundo dos games, apresentar tanta violência, falta de confiança e pouca empatia partindo das suas diversas personagens. Tal característica brutal é bem presente em obras norte-americanas e britânicas, inclusive, como em The Walking Dead, o que acaba não passando mensagens tão positivas na sua balança final de moral da história.

É triste ver como o individualismo está tão entremeado nas sociedades atuais que, mesmo nesse tipo de imaginário comum, personagens tão cativantes se tornam as mais cruéis e frias pessoas a todo momento de crise ou de decisão. Apesar disso, The Last of Us é muito mais sobre grandes traumas psicológicos internos de seus protagonistas que uma sociedade saudável e construtiva na maior parte do tempo.

The Last of Us ainda terá um desfecho no futuro, mas caminha para algo muito similar e carrega um fardo enorme de bad vibes. São inúmeros os relatos de quem o joga de que saiu com um gosto amargo ou uma fadiga mental causada por narrativas tão violentas e tristes (e para o autor desta análise não foi diferente). No entanto, ele continua sendo uma sumidade dos jogos digitais mesmo após uma década do seu lançamento original. 

Conclusão: Venha esperando muito

The Last of Us Part I é o suprassumo dos games. Mesmo lançado em 2013, originalmente, são evidentes seus momentos contemplativos e intensos que chegam energicamente aos sentidos de quem segura o controle (ou, agora, o mouse e o teclado). Ele te exigirá tanto das habilidades de tiro e furtividade quanto te recompensará muito justamente com recursos bem distribuídos pelas fases e com cenários belíssimos, dignos de várias fotos (use e abuse do Modo Foto, que está espetacular!). 

Screenshot de the last of us part i - o modo foto de tlou está magníffico e repleto de opções customizáveis (imagem: renato reis/sony interactive entertainment)
O Modo Foto de TLoU está magnífico e repleto de opções customizáveis (Imagem: Renato Reis/Sony Interactive Entertainment)

Para muitos, a performance e a qualidade dos gráficos pode estar deixando muito a desejar. E, de fato, em detrimento a outros jogos recém-lançados, seus padrões de exigência de hardware em função do que entrega na realidade não fazem sentido quando nos referimos a um jogo bem otimizado nos computadores.

Todavia, é possível apreciar uma baita obra dos videogames no port para PC, mesmo que tenha chegado como chegou. Por isso, é importante respeitar os limites do seu hardware, enquanto patches e mais patches de correção da Naughty Dog chegam aos poucos para aprimorar a performance da obra no PC. 

Muitos dos seus momentos narrativos são marcantes, sua jogabilidade é um deleite de bem desenvolvida e ele oferece opções no pós-game que são realmente atraentes: novas skins, new game + (que mantém todas as suas habilidades e upgrades das armas feitas na primeira jogada), trapaças desbloqueáveis, artes conceituais, conteúdo de making of do jogo etc. Por isso, prepare-se para a desidratação ao suar as mãos no controle e se emocionar com diversos momentos inesquecíveis do jogo. 

Nós do Showmetech recomendamos muito The Last of Us Part I, se estiver melhor otimizado no PC. Então o que faz mais sentido, nesse momento, é esperar as atualizações posteriores na Steam e na Epic Games Store, além de aproveitar uma boa promoção nos próximos meses. Ultimamente, a loja Nuuvem também tem oferecido ótimos preços.

Análise realizada com uma cópia de PC cedida pelos produtores

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REVIEW: Storyteller é um puzzle encantador

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (12/04/23)

The Last of Us Part I

The Last of Us Part I
9 10 0 1
9/10
Total Score
  • Jogabilidade
    10/10 Excelente
  • Narrativa
    9/10 Incrível
  • Gráficos
    8/10 Ótimo
  • Performance
    6/10 Normal
  • Som e Trilha Sonora
    10/10 Excelente

Prós

  • Narrativa audaciosa e emocionante
  • Jogabilidade caprichada
  • Design de som e ambientação magníficas
  • Gerenciamento de recursos e combate muito satisfatórios
  • Transições de cutscenes para gameplay quase imperceptíveis

Contras

  • Performance gráfica aquém do esperado no PC
  • Um pouco cansativo em alguns momentos
  • Violência extrema a todo momento
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